O que é que a baiana tem? Raiva de mim, ela tem. Pelo menos aquelas que vendem acarajé na Ilha de Itaparica, Praia do Forte e adjacências. É que toda vez que vou à Bahia, corro atrás dos acarajés apimentadinhos, porém vatapá, caruru, camarão seco e qualquer outro recheio do típico bolinho de feijão, frito no dendê, não me apetecem. Acarajé para mim tem que ser recheado com pasta de pimenta malagueta. E só. Somente.
O problema é que existe um preconceito com aqueles que quebram tradições. É aquela coisa, né, um quitute herdado da história do Brasil não pode ser alterado. Mas meus Deus e todos os santos, eu não gosto do recheio e amo o bolinho! Julguem-me, mas me venda o treco só com pimenta, por misericórdia.
Tanto drama porque a primeira vez que tentei comer um acarajé na Bahia foi traumática. Parei em frente ao tabuleiro, olhei aquele camarão seco e meu estômago já embrulhou. Respirei fundo e pedi, educadamente, à jovem baiana que vestia traje típico:
— Por favor, eu quero um acarajé, mas só com essa pasta de pimenta.
Com desdém, a dona do quitute olhou para a minha cara e debochou:
— Acarajé na Bahia tem que ter tudo minha querida.
— Tudo bem, respeito. Mas eu quero só com pimenta.
Ignorando completamente a minha opinião, a fulana socou tudo o que é recheio possível. Só não cuspiu porque eu estava na frente dela. Camarão seco, então? Transbordava pelas tabelas. Enfim, tive que tirar todo o recheio para comer o bolinho. Lógico que forcei uma mordida para provar para mim que eu realmente não gostava daquilo.
Desde então aprendi. Já faço cara de drama e lanço um “tenho alergia”. Se nunca comeu acarajé só com pimenta, experimente, uma nova Bahia surgirá diante de seus olhos.
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Se preferir não passar vergonha diante da autenticidade baiana, aqui vai a minha receita de acarajé com pimenta.
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