Tags
Bahia, Itacaré, ladeira, Nárnia, Praia da Tiririca, preguiça, Rua da Pituba, surf, tapioca
O sol da Bahia é quem dita o ritmo daquele que sobe a ladeira a quem traz o prato pedido. Não adianta ter pressa. Ansiedade não abala sequer um pelo de pestana baiana. Cada coisa a seu tempo ou, como eles mesmo dizem, “sorria você está na… Bahia!”. Sim, e se a Bahia tem seu ritmo próprio, Itacaré tem sua Bahia. Como bem disse o surfista de Porto Alegre que conheci por aqueles paralelepípedos, paulista exagera na pressa, mas qualquer um que não abstrair o tempo de Itacaré, irá voltar mais estressado do que veio.
O belo gaúcho foi quem me contou uma das melhores histórias sobre o ritmo desta cidade, também conhecida pelo reggae forrozeiro . “Ontem fui comprar um açaí ali, ó”, apontando para uma casa comercial onde SÓ vende açaí. “Pedi um açaí, claro. Sabe o que o cara me disse? Que naquele momento não tinha açaí, porque era a hora de lavar louça, portanto, não tinha açaí!”
Justo. Confesso que demos boas risadas do açaí, como dos inúmeros “tem não” que ouvimos naquelas últimas 48 horas. Também dos créditos em cerveja que ganhávamos nos botequins sem troco e do quase banho de bobó de camarão que levei de uma garçonete distraída com a caçarola apoiada no antebraço. Não resta dúvida que essa é uma parte da pitoresca alegria de Itacaré.
De dia, a badalação da cidade se concentra na encantadora Praia da Tiririca. Já à noite, tudo acontece na Rua da Pituba. Basicamente o “rolê” é esse. Como não pratico surf, tinha em todas as manhãs o aprazível momento de vestir o meu par de tênis e correr até a Tiririca sem ter de me preocupar com o tempo. Ao final do treino, alongava admirando o sol, que se esticava comigo e com os surfistas já animados nas incontáveis ondas (aquelas as quais morro de medo, confesso).
Após um dia cheio de passeios, mar, praia, bons papos e risadas com os amigos, a noite caía e a lua trazia o forró. O som se misturava ao reggae, importado pelos turistas que resolveram abandonar Minas Gerais e São Paulo para abrir bares e restaurantes por ali mesmo (Ok, nenhum jamaicano entre eles, de gringos apenas argentinos e italianos. Em suma, o reggae veio do surf). É este o cenário da Pituba, ladeira que sempre ganha mais emoção após as 23h, quando os tabuleiros de cocada eram substituídos pelos “brigadeiros de Nárnia”.
Na conexão Itacaré-Nárnia, o farol iluminava tanto os barcos quanto a festa na areia da praia, já a brisa do mar afagava o rosto dos amigos que se abraçavam em infindáveis gargalhadas. O burburinho da noite ludibriou as charmosas covinhas vincadas no sorriso do gaúcho, seduzido inesperadamente pela luz da lua refletida em um daqueles paralelepípedos da Pituba. Ele só não contava com a malemolência das irônicas covinhas sorridentes de uma paulista sem pressa:
– Sorria, gaúcho, você está na Bahia, né…
***
Engana-se quem pensa que o Sol escaldante hipnotiza a todos. Tem muito baiano pimentinha por aí, com corpo fechado para o astro rei. Entre eles, posso dizer que está a arretada Ane Oliveira, dona da melhor tapioca que já comi na vida. Com Ane não tem moleza: faz o que for preciso para conseguir reabrir seu quiosque de tapiocas, até mesmo ficar a noite inteira em pé em uma festa de Réveillon fazendo a sua especialidade para bêbados que nem vão sentir muito o prazer de comer aquelas belezuras de beiju.
Como foi obrigada a fechar seu sonho porque os custos tornaram-se maiores do que seu faturamento, por enquanto, atende um e outro por telefone e foca nos eventos de música da cidade para poder divulgar suas tapiocas e fazer um grana extra. O maridão, sempre ao lado, ajuda com tudo. Afinal, mais apaixonante do que as tapiocas de Ane é a própria Ane:
– Sabe o que é, fazer tapioca é o trabalho que eu mais amo na vida. Faço tudo com muito, muito carinho. Queria conseguir reabrir meu negócio. E vou! Sei que vou…
É em homenagem a este clima meio tapioca, meio brigadeiro; meio surf, meio forró; meio corrida, meio reggae; meio gaúcho, meio paulista; que eu coloco aqui uma receita com alma de Itacaré: tapioca de carne seca com creme de gorgonzola.
Serviço
Tapiocas da Ane
(73) 99971-0018
(73) 99856-7750
(73) 98211-3788
(73) 9990-9778
FOTOS: Christiane Marques, Maurício Casarin e Priscila Dal Poggetto
Confesso que me emocionei lendo esse lindo texto, tão verdadeiro que me fez reviver cada segundo de uma viagem deliciosamente perfeita. Mantendo o meu amor pelas praias do sul da Bahia que ja me acolhem ha muitos réveillons.
Ah Itacare que ganhou sua fama carinhosa de Narnia e consegue se manter viva em nossas mentes da forma mais deliciosa que ‘e o reencontro sempre com amigos para sempre lembrar dos bons momentos vividos.
Quem nao foi nao deve deixar de conhecer em qualquer tempo, pois la você será sempre bem vindo.
CurtirCurtir
Pingback: Tim Maia e a BR-030 | Volto pro almoço
Pingback: Por mais dias de brisa, caipirinha e caravelas nas areias de Itacarezinho | Volto pro almoço